terça-feira, setembro 21, 2004

Viagem

Saiu de casa apressadamente. Mal tinha tido tempo para vestir o seu tailleur preferido, comprado na sua última ida a Paris, e acabar de encher o seu trolley. Olhou para o relógio, pegou na sua Louis Vuitton de estimação e esperou o elevador. Odiava atrasar-se. Mas desta vez não tinha tido culpa. O despertador não tocara. Lá fora uma chuva miudinha conseguiu pô-la ainda com pior humor, tornando a chegada do Outono triste e deprimente. Entrou no seu Smart e arrancou a toda a velocidade com rumo ao aeroporto. Uma paragem nos semáforos permitiu-lhe fazer dois telefonemas de última hora. Tinha de ter a certeza que não perdia o avião. As saudades não iam perdoá-la. O trânsito infernal àquela hora da manhã parecia estar contra ela. Finalmente avistou ao fundo uma placa: Aeroporto. Tinha pouco tempo para apanhar o avião, mas sabia que não podia perdê-lo. Virou para o seu destino e procurou o melhor local para estacionar. Saiu do carro, pegou na mala e correu para a porta que dizia “Partidas”. Inúmeros corredores e um sem fim de tapetes rolantes separavam-na do balcão do check-in. O rasto de Chanel Nº5 e o som compassado dos seus stilletos ultrapassavam uma multidão de gente que a admirava quando ela passava. Balcão 21. Abriu a carteira e retirou a passagem e o passaporte. Ouviu uma voz: “Senhores passageiros, última chamada com destino a Roma”. Estava capaz de explodir de raiva. Cada vez odiava mais coisas electrónicas: computadores, telemóveis…e desta vez estava em risco de perder o avião por causa de um simples despertador! Com a maior rapidez que pôde chegou à porta 17 onde a hospedeira lhe lançou um olhar reprovador. Tinha conseguido. Se tudo corresse bem, dentro de três horas iria abraçá-lo.