Fuga
Sem rumo, sem tempo, sem destino. Saí. Peguei no melhor casaco, já que não sabia quando iria voltar. Fugi daqui. Destas pessoas, deste espaço, deste mundo. As ruas estavam desertas, como se todos soubessem o meu desejo de não encontrar ninguém. O silêncio reinava naquele fim de tarde que chamava pela noite. Nada existia. Só eu e a minha sombra. O eco dos sapatos no passeio lembrou-me aquela música. Aquela que gostei desde a primeira vez que ouvi. Comecei a cantar. De vez em quando um gato surgia de uma esquina como se me quisesse ouvir. Passei por todas aquelas ruas que tantas lembranças me traziam. Bancos de jardim partidos, portas entreabertas, árvores envelhecidas pelo tempo. Sempre gostei da árvore do tronco branco, lembras-te? Fazia-me lembrar uma mão esguia com uma luva de cetim, suave e brilhante. Parei para contemplá-la. Até a sua beleza tinha desaparecido. Tudo parecia triste e com medo, mas ao mesmo tempo a torre sorriu-me como que a pedir-me para não partir. Então tive pena e percebi. Finalmente percebi o porquê do refrão daquele fado. Agora percebo. "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida."
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