Preto e Branco
Procurei toda a tarde. Não encontrei. Mesmo assim vesti o vestido preto para tocar. Senti a sua falta. Como iria correr sem aquele gesto? Entrar no palco, enfrentar uma multidão de olhos postos em mim, sentar-me ao piano e não fazê-lo? Vi a minha imagem reflectida naquele negro brilhante. Senti-me nua sem elas. Mas não as tinha encontrado. Mesmo sem o gesto já tão familiar de tirá-las e pô-las ao meu lado esquerdo, em cima do piano, respirei fundo, pronta para tocar. Nesse momento tudo parou. A multidão desapareceu, foi como se ficasse só eu e ele. Comecei. Os dedos percorreram toda aquela imensidão de preto e branco como se fugissem de alguma coisa, numa rapidez estonteante. Uma mistura de sons invadiu a sala compondo uma melodia nervosa e triste. Os dedos não queriam dançar, parecia que alguma coisa os impedia. Nessa noite não me senti uma princesa. Faltavam as luvas de cetim.
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