Branco
O frio faz-me mergulhar em pensamentos perdidos. De repente dou por mim a relembrar coisas que julgava já ter esquecido...ideias do passado, olhares antigos, sons de outrora.À minha frente uma folha de esquiço em branco, sem nada de novo para contar, espera ansiosamente que a colecção sem fim de grafites a percorra e lhe traga novas histórias, novas vidas, novos traços. Não lhe concedo esse desejo. Olho pela janela... Lá fora milhares de cores confundem-se com a caixa de lápis que tenho em cima do estirador. A luz do candeeiro cria um palco debaixo dos meus olhos. Cenógrafa, coreógrafa, crio um bailado. A sombra dos bailarinos sobre a folha branca, entre piruetas, pas-de-chats e balancés, devolve-lhe a vida. Subitamente, senti imensas saudades das minhas sapatilhas de pontas, do ritual de apertar as fitas de cetim em torno da perna...
Saí e fui dançar.
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