terça-feira, julho 18, 2006

Deserto

Ouve-se o mar.
Lá fora o vento assobia sem o medo de outrora.
Sempre sonhara estar ali. O branco invadia a escuridão daquela noite fresca de início de verão. Paredes puras, tocadas ao de leve pelas cortinas esvoaçantes envolviam-na como num casulo onde mais ninguém pudesse entrar.
Mesmo deitada contemplava a linha do horizonte, mediatriz daquele mar inquieto e do céu nervoso. Pressentiu na areia uma tempestade de deserto. Criou uma dança naquele palco perfeito. Movimentos crus de sentir, quentes de paixão, ardentes de saber. Saltos cadentes como a estrela que acabara de ver. Passos distraídos, tempos descompassados, sons perdidos.
Ouviu um ruído leve e sorrateiro.
Ele entrou.
Fechou os olhos, como se mergulhada num sono que jamais tinha desejado.