sexta-feira, dezembro 31, 2004

Segredo

"Sabes o que é que as pessoas faziam antigamente quando queriam guardar um segredo? Escalavam uma montanha, procuravam uma árvore e nela escavavam um buraco. Depois diziam o segredo para dentro do buraco e tapavam com lama. Só assim tinham a certeza que não seriam traídas, que ninguém iria saber o seu segredo."

Escalei uma montanha. Estou bem lá no cimo. Está aqui muito frio. O vento sopra com toda a sua força como que a dizer-me para ir embora. Devo ter a ponta do nariz vermelha. Sinto muito frio. Infelizmente não tive que procurar uma árvore...Só há uma. Não é tao bonita como a minha árvore, de tronco branco e dedos esguios. Mas também tem a sua beleza e serve muito bem para o que quero fazer. Estou a escavar um buraquinho na árvore. Custa um bocadinho mas também não tem que ser muito grande... O que tenho para contar é pouca coisa. Pronto! já está. Coloco as mãos à volta da boca e sussurro bem baixinho para dentro do buraco: "Vais saber o que é estar sem mim. Antes de 2046." Baixo-me. Apanho um montinho de lama e coloco-o dentro do buraco. Olho à minha volta. Sinto-me muito melhor agora.

Adeus.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Dreams Come True

...

domingo, dezembro 19, 2004

Tu

Entras sem pedir licença... Mal dou conta, lá estás tu. Procuras o filme que está a passar na minha cabeça ensonada e mergulhas nele como personagem principal. Surges do nada e tomas conta de tudo.Dás-me sorrisos e alegrias. Fazes-me imaginar mil cenários com inúmeras cores, como se tudo fosse bem real.

Será que também hoje vais passear pelos meus sonhos?

terça-feira, dezembro 14, 2004

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa




sábado, dezembro 11, 2004

Castelo

Sabem quando andamos a constuir um castelo de cartas, daqueles muito altos, com muitos andares? Daqueles que a cada carta que colocamos nos sentimos tão felizes por estarmos a conseguir? Que mesmo só conseguindo fazer a primeira fila já valeu a pena, já ultrapassámos algo muito difícil...?

Ontem, com um olhar apenas, o meu castelo desmoronou-se...

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Desejo

"Quero fazer contigo o que a Primavera faz com as cerejeiras."

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Acordar II

Acordaste-me com um daqueles beijos. Aqueles que só tu sabes dar. Abri os olhos bem devagarinho para atrasar a tua imagem.
Não.
Arrependi-me. Prefero imaginar como estavas.

Acordaste-me com um daqueles beijos. Aqueles que só tu sabes dar. Imaginei como estarias hoje. Talvez aquele olhar penetrante, meio envergonhado, em que leio tudo o que queres dizer. As mãos finas com dedos esguios tocavam-me o cabelo desalinhado. Adivinhei que dentro de alguns segundos ia ouvir a tua voz doce a segredar-me que estava frio lá fora.
- Está tanto frio aqui fora...
Entraste de mansinho pelo meio de lençóis, edredons e almofadas até chegares até mim. Senti o teu corpo, o teu cheiro. Ainda bem que não cheguei a abrir os olhos.


quarta-feira, dezembro 01, 2004

Regresso

A chuva voltou. Com ela arco-íris coloridos perdidos na imensidão do azul do céu. Uma azáfama de guarda-chuvas que enchem as ruas de cor. Gotas sem fim. Sons cintilantes, reflexos de tudo. Canções de embalar, serões à lareira. Histórias ao deitar, amanheceres revoltados. Preguiça. Desta vez esqueceu-se de trazer as lágrimas.