Fim
E foi assim, voando sobre nuvens de algodão e uma imensidão de azul, que chegou ao fim.
Obrigada a todos que permitiram que este ano fosse tão especial.
Deserto
Ouve-se o mar.
Lá fora o vento assobia sem o medo de outrora.
Sempre sonhara estar ali. O branco invadia a escuridão daquela noite fresca de início de verão. Paredes puras, tocadas ao de leve pelas cortinas esvoaçantes envolviam-na como num casulo onde mais ninguém pudesse entrar.
Mesmo deitada contemplava a linha do horizonte, mediatriz daquele mar inquieto e do céu nervoso. Pressentiu na areia uma tempestade de deserto. Criou uma dança naquele palco perfeito. Movimentos crus de sentir, quentes de paixão, ardentes de saber. Saltos cadentes como a estrela que acabara de ver. Passos distraídos, tempos descompassados, sons perdidos.
Ouviu um ruído leve e sorrateiro.
Ele entrou.
Fechou os olhos, como se mergulhada num sono que jamais tinha desejado.
Tarde
Sete.
Depois de 295 dias a passar por eles, só hoje os olhei com atenção.
São sete.
Não que alguma vez tivesse ousado adivinhar quantos seriam... Mas como posso justificar só hoje ter perdido dois minutos com eles? Vergonha? Receio?.... Medo.
Todo este tempo sem ti. Quase sem te olhar. Só. Sem sentido.
Depois de tantas noites sob palmeiras que imitam os trópicos, ou músicas que nos fazem viajar. Luas cheias e estrelas que queria que fossem cadentes. Por entre ruelas como as que se vêem da janela, às horas mais tímidas da noite, quando o silêncio se torna maior que tudo. O frio de rachar do meu inverno ou este calor que agora nos invade e domina.
Dizer tantas coisas. Mostrar-te o meu mundo. Fazer-te uma cançao.
Depois de tudo e de todos.
Porquê? Porquê só agora?
Talvez já seja tarde.
Guincho
O Guincho aqui tão longe.
A areia senti-a a escaldar, como se o mar nunca a tivesse tocado...sequer olhado. Doce e suave como o sol. Forte e guerreira como as ondas. Medrosa como eu.
Trazia consigo o cheiro, a maresia, o calor... Abri-a.
O vento soltou-me o cabelo. Os salpicos das ondas na pele trouxeram recordações guardadas em gavetas esquecidas. Caminhei. As pegadas apagavam-se como o quebrar do lacre vermelho digno do tempo dos reis e das princesas.
O som.
Ouvir o mar por entre um búzio abadonado ali por uma qualquer criança. Coleccionar conchas perdidas, correr sem rumo...
Pegar na prancha e entrar naquele azul sem fim. Remar contra a maré.
O frio que sabe bem, o sal nos lábios, o medo e a vontade de voar. O horizonte mesmo ali à frente. Tão longe ou tão perto. A ansiedade daquela onda. Aquela em que o tempo pára. Em que deixo de ouvir. Em que o mundo é só meu.
A companhia do pôr-do-sol.
Aquela música de verão.
A tua companhia.